O que comem os Portugueses?

Os hábitos alimentares são um dos principais determinantes da nossa saúde

O Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física (IAN-AF 2015-2016) permitiu-nos tirar uma fotografia à população portuguesa e ficar a conhecer o que comem os Portugueses. O IAN-AF agrega toda a informação nacional sobre o consumo alimentar (incluindo a ingestão nutricional e dimensões de segurança e insegurança alimentares) e toda a informação sobre a atividade física, e a sua relação com determinantes em saúde, nomeadamente os socioeconómicos.

Este segundo inquérito alimentar nacional esteve no terreno entre outubro de 2015 e setembro de 2016, depois do 1º inquérito ter sido realizado em 1980.

Ao comparar o consumo alimentar estimado pelo IAN-AF 2015-2016 para a população portuguesa com as recomendações preconizadas pela Roda dos Alimentos Portuguesa, é possível concluir que o consumo de “Fruta” e ”Hortícolas” se encontra abaixo dos valores recomendados (13% vs 20% e 14% vs 23%, respetivamente) e que, pelo contrário, o consumo de “Carne, pescado e ovos” encontra-se acima dos valores recomendados (17% vs 5%).

Figura 1. Dados de consumo alimentar em Portugal. Fonte. Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física, 2015-2016.

Relativamente ao consumo de fruta e hortícolas, 53% da população portuguesa não cumpre as recomendações preconizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para um consumo diário de pelo menos 400 g/dia de fruta e produtos hortícolas. Estes números são mais preocupantes para os grupos mais jovens da população, sendo que esta recomendação não é atingida por 69% das crianças e 66% dos adolescentes portugueses. É também possível verificar desigualdades regionais no consumo de fruta e hortícolas. As Regiões Autónomas foram as que apresentam a maior prevalência de inadequação para o consumo destes alimentos, alcançando 69,3% no caso dos Açores e 60,1% no caso da Madeira.

Os produtos alimentares como os bolos, doces, bolachas, snacks salgados, pizzas, refrigerantes, néctares e bebidas alcoólicas, que não devem fazer parte da nossa alimentação diária, representam cerca de 21% do consumo total.

Apesar de a água ter sido identificada, no IAN-AF 2015-2016, como a bebida mais consumida pela população portuguesa (795g/dia), o consumo elevado de refrigerantes e/ou néctares é uma realidade, principalmente na faixa etária dos adolescentes, em que o seu consumo diário alcança, em média, os 161g/dia e a percentagem de adolescentes que bebe diariamente refrigerantes (consumo diário ≥220g/dia) é de 42%. Dos adolescentes que indicam consumir este grupo de bebidas, 25% bebe aproximadamente dois refrigerantes por dia.

Os dados recolhidos através deste inquérito têm contribuído para a definição de políticas públicas e intervenções na área da alimentação, bem como para monitorizar e avaliação as políticas em curso.

Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física, IAN-AF 2015-2016: Relatório de resultados, ISPUP, Universidade do Porto.

E as crianças pequenas?

A alimentação nos primeiros anos de vida

A alimentação adequada, desde etapas precoces do desenvolvimento e do crescimento [preconceção, gravidez, primeiros 2 anos de vida (conceito dos 1100 dias) e primeira infância] é um dos importantes determinantes da promoção da saúde e da prevenção da doença para a vida.

O EPACI Portugal 2012 (Estudo do Padrão Alimentar e de Crescimento Infantil), um estudo que caracterizou uma amostra representativa nacional composta por mais de 2200 crianças, com idades compreendidas entre os 12 e os 36 meses, permitiu caracterizar a alimentação e crescimento das crianças portuguesas nos primeiros anos de vida.

Figura 2. Hábitos alimentares inadequados das crianças portuguesas

Os resultados do Estudo EPACI destacam alguns comportamentos alimentares das crianças com 2 a 3 anos de idade:

 

1. Elevado consumo de lacticínios

Em termos de quantidade, em média, a porção diária ingerida é 25% superior ao recomendado.

 

2.  Baixo consumo de produtos hortícolas no prato

Mais de 90 % ingere diariamente sopa de legumes, mas somente 52% das crianças consome diariamente produtos hortícolas no prato.

 

3. Elevado consumo de produtos açucarados

17% das crianças ingere diariamente bebidas açucaradas (particularmente néctares e refrigerantes sem gás) e10% das crianças consome diariamente sobremesas doces.

 

4. Elevado consumo de snacks doces e salgados (bolos, guloseimas, batatas-fritas de pacote, pipocas, etc.)

Representam, em média, 5% do peso de alimentos ingeridos diariamente pelas crianças.

 

5. Ingestão proteica elevada

A ingestão proteica é mais de 4 vezes superior ao recomendado. Os principais contribuidores para a ingestão de proteína são a carne e os produtos lácteos, pelo que se recomenda atenção no tamanho das porções servidas.

 

6. Ingestão de sódio elevada

87,3% das crianças ingeriam sódio acima do limite superior tolerável, registando-se uma tendência crescente com a idade (83,5% para as crianças dos 12 aos 24 meses; 93,1% para as crianças dos 24 aos 36M).

 

Alimentação e crescimento nos primeiros anos de vida: a propósito do EPACI Portugal 2012, novembro 2013

No que respeita às crianças de 3-6 anos, os resultados da Geração XXI (primeira coorte de nascimento Portuguesa que acompanha prospectivamente 8647 crianças, nascidas nos hospitais públicos com maternidade da área metropolitana do Porto, nos anos de 2005 e 2006) são relativamente concordantes com os do EPACI.